Vagabond - Arco 01: Shinmen Takezo | Resenha.

 

Vagabond - Arco 01: Shinmen Takezo (Vol 01-02)
Lançamento: Março de 1999
Revista: Morning
Roteiro e Arte: Inoue Takehiko
Nota: 5/5

Depois de muitos, muitos anos adiando essa leitura, finalmente estou lendo Vagabond (um dos Seinens da grande trindade, só os fortes entenderam) e trago a resenha dessa obra pra vocês em um novo formato, talvez tenha alguns pequenos spoilers mas eu espero que gostem.

A obra se incia no final da famosa Batalha de Sekigahara (21 de Outubro de 1600) onde o nosso protagonista, Shinmen Takezo (futuramente conhecido como Miyamoto Musashi), é aparentemente o único sobrevivente naquela parte do campo de batalha e após sobreviver a uma cavalaria que não o matou pisoteado, ele encontra seu único amigo de infância, Hon'iden Matahachi, vivo e se lamentando por não conseguir se tornar famoso naquela batalha. Os dois eram só servos que pegavam em foices e em enxadas pra abrir caminho para o exército, geralmente os servos são os que morrem logo de cara em uma invasão do exército inimigo, é um verdadeiro milagre eles estarem vivos. Após os dois abandonarem o campo de batalha, eles são surpreendidos por soldados inimigos e a única saída é enfrenta-los. Logo de cara o autor salienta a violência e força de Takezo em poucas páginas mas de maneira bem impactante que chama a atenção do leitor.
Mas assim que eles passam por esses soldados, Takezo e Matahachi conhecem duas mulheres que os acolhem pois a mulher mais velha da casa parece ter gostado de Takezo - não me sinto surpreso, o cara é muito galã/bonitão - o problema é que elas parecem viver na constante ameaça de um grupo de bandidos que recolhem as armas dos caídos em batalha, e essas duas mulheres resolveram fazer o mesmo o que acabou chamando a atenção e provocando raiva no grupo de ladrões. E mais uma vez Takezo e Matahachi estão no meio desse fogo cruzado para proteger suas salvadoras, então vemos aqui que é o Takezo que se dispõe em ajudar enquanto Matahachi vai na onda de seu amigo mesmo não querendo e essa é uma das diferenças que os dois possuem, decretando que o Matahachi é um covarde, que as vezes ajuda mas que não exitaria em deixar seu amigo pra morrer em troca de sua própria fuga e bem-estar. Já o Takezo é um caso diferente, nesse começo ele igual a um animal selvagem, ele é pura força bruta, guiado por seus instintos e suas emoções mais destrutivas, o levando para um caminho de brutalidades, mortes e autodestruição (lembrando que ele só tem 17 anos nesse começo).
Ao mesmo tempo que ele é esse animal que só pensa em lutas e morte, sem qualquer tipo de cuidado consigo mesmo, ele não é 100% uma má pessoa, tá certo que eu ainda não vi tudo desse personagem e sei que ele ainda pode fazer muitas escolhas erradas, mas em algumas páginas ao longo desse arco nos mostra que ele tem uma bondade dentro de si. Eu vejo ele como um ser perdido, triste e vazio por dentro mesmo com toda as suas ambições de querer fama e status, ele não sabe ao certo qual caminho deve seguir e também não acredita que merece viver.

Devido ao seu passado com o abandono de sua mãe e a convivência com a brutalidade e rejeição de seu pai, Takezo cresceu só conhecendo coisas ruins por um bom tempo, então ele foi crescendo violento afastando todas as crianças da vila de sua vida, e é nesse meio tempo que Matahachi e Otsu (também amiga de infância de Takezo e "futura noiva" de Matahachi) entram em sua vida contradizendo o que a população do vilarejo dizia sobre Takezo. Ele é esse personagem que vive em conflito consigo mesmo o tempo inteiro e isso se potencializa quando ele encontra o Monge Takuan Soho, que foi o único a bater de frente com Takezo o derrotando com apenas palavras... Sim, o monge alugou todo um país na cabeça do Takezo.
É aqui que entramos na parte mais importante do arco, Takezo após causar um alvoroço em seu vilarejo natal, ele é capturado pelo Monge Takuan da maneira mais simples e pacífica do mundo, o que acaba deixando Takezo com um ódio verdadeiro pelo monge, mas é nesse momento que tudo aqui começa a mudar. Nosso protagonista se vê desejando a morte mais do que qualquer coisa naquele momento, maior até que o ódio que ele tem pelo monge e pelas pessoas da vila, ele aceita a alcunha de monstro e demônio que o vilarejo - e de certa forma o próprio pai também - deram pra ele, então ele passa a desejar a morte com mais vontade, de primeira ele deseja morrer como um guerreiro pelas mãos do Takuan mas o monge quer ensinar coisas como o valor da vida por exemplo, então por mais que o Takezo grite ao máximo pedindo ao monge que o mate de uma vez, isso não vai rolar. E de tanto pensar e refletir sobre o que veio acontecendo desde sua infância, Takezo começa a se achar indigno da vida, pois até o seu pai o achava um completo fracasso e desperdício.

Mas graças ao Takuan nosso protagonista finalmente percebe que o caminho que ele tinha escolhido, as alcunhas que ele tinha aceitado e ajudado a se firmarem "reais", era algo que não valeria a pena seguir. Takezo estaria morto em poucos dias se assim continuasse, mesmo estando vazio e sem um norte na vida, não vale a pena se virar para as sombras pois essas maldades não fazem ninguém se tornar alguém de respeito. É como foi dito aqui: Viva e resista às sombras! E a claridade virá em sua direção... Isso foi muito motivacional né? Comente se você chorou também.

Eu sempre admirei a arte do Inoue pelo pouco que tinha visto em imagens isoladas na internet, mas lendo essa obra hoje, com o texto de uma escrita incrível e desenhos de cair o queixo a cada página que passa, eu notei que o valor que eu dava pro Inoue era muito baixo pois o cara merece 100% do reconhecimento que ele tem ao redor do mundo. A arte dele dá muito mais corpo pra narrativa e vice-versa, ele é um dos poucos mangakás - até onde me lembro - que dá uma enfase muito grande nos olhos/expressões de seus personagens na obra. A página que vou mostrar agora é um perfeito exemplo do que estou falando, vocês vão ver o quão atencioso o Inoue é com as expressões:

Olhem pra cara do Takezo e me digam se isso não é uma verdadeira expressão de ódio genuíno por alguém? Isso é perceptível logo no começo da obra, Takezo tem um olhar frio, triste e distante enquanto a Otsu transmite a sensação de bondade, conforto e alegria através de seus olhos, a mesma coisa com o Matahachi, só que o caso dele é o medo e a vergonha que os olhos transmitem. E não é só nas expressões que o Inoue faz com excelência, os cenários de fundo e suas páginas duplas são coisas de outro mundo e é claro que eu vou mostrar:
Como eu pude deixar uma obra com essa qualidade de lado por tantos e tantos anos? O nível de detalhe em cada página contida nessa obra é ABSURDO! E eu não duvido de que essa arte vai melhorar e muito ainda pois o autor é realmente dedicado. Já disse isso mas eu vou ter que falar de novo... O Takezo é muito bonito! O cara é um modelo que mata gente brutalmente, e isso me deixa com muita inveja e triste pois sou feio. Hahaha
Brincadeiras de lado, eu fui conquistado pela arte desse mangá logo de cara mas o que realmente me chamou atenção ao ponto de eu esquecer todo o resto, foi essa página aqui:
Se você não tinha sido convencido de que a arte dessa obra é ÚNICA E LINDA! Acho que agora você está amando ela. Se alguém puder me dizer que figura é essa na imagem me falem por favor, quero muito saber quem seria.

Esse primeiro arco foi o início de uma jornada incrível, e eu tenho a total certeza de que eu vou adorar ler até o final e resenhar todos os arcos aqui pra vocês. Como estou fazendo esse novo formato pela primeira vez, o texto pode estar meio estranho mas com o tempo eu vou me esforçar pra polir/corrigir os erros até ficar com uma escrita melhor, e eu espero de verdade que vocês gostem desse formato.
Não vou fazer resenha por arcos com todos os mangás que leio, existem obras que não são divididas por arcos então as resenhas por volumes vão continuar, podem ficar tranquilos.

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