Trilogia Gatilho | Resenha.

 

Trilogia Gatilho
Lançamento: Março de 2021
Editora: Pipoca e Nanquim
Roteiro: Carlos Estefan
Arte: Pedro Mauro
Nota: 4/5

Mais um quadrinho nacional pra conta e dessa vez um quadrinho de faroeste, por acaso é o meu primeiro quadrinho de faroeste... Eu nunca li Tex ou Ken Parker, desculpa pai. Hahaha

Com prefácio do Gianfranco Manfredi, onde ele pontua as referências e temas que o Carlos e o Pedro usaram para compor essa trilogia. Essa HQ é divida em três partes (não diga), Gatilho, Legado e Redenção, também temos uma história extra que serve de complemento para a primeira parte do quadrinho.
A primeira história, Gatilho, tem seu início aparentemente tranquilo, um caçador de recompensas chega em uma cidade pedindo informações de um certo fora da lei, enquanto vemos (paralelo a isso) a vida de um Barman que só é chamado de Escocês e aparentemente a vida dele é a mais pura tranquilidade, tem seu bar, sua esposa e estão tentando ter um filho para alegrar mais ainda a vida do casal. O problema é que uma certa gangue de bandidos chegam nessa cidade e no bar do Escocês, a partir dai a vida desse personagem e de todos que o cercam, são tragadas pelo ciclo vicioso do ódio, derramamento de sangue, matanças sem sentido e vingança sem fim.

A partir dessa pequena sinopse temos três histórias que, se fossem adaptadas pra filme o sucesso era totalmente garantido! A leitura desse quadrinho é muito rápida, tem 260 páginas mas é uma leitura tão rápida e prazerosa que 260 páginas não significam nada, a narrativa é cativante, com cenas de ação empolgantes que prendem os olhos nas páginas e as cenas trágicas que ascendem aquele ódio por ver tais acontecimentos grotescos. Gosto como as histórias conversam muito entre si o tempo inteiro mas ao mesmo tempo elas podem ser lidas como uma história fechada sem um gancho de continuação, achei uma ótima sacada do Carlos Estefan.
O quadrinho vai bater muito na tecla da vingança, por exemplo, um pai protegendo seu filho de se tornar um assassino como ele e o filho parece não entender muito mas reprova o que o pai é, mas por escolhas de emergência, desvios do destino e barreiras aparentemente invencíveis, o filho ao chegar a idade adulta acabaria por seguir o mesmo caminho que seu pai o protegia tanto de seguir. O que eu acho curioso nesse quadrinho é esse lance do filho se espelhar no pai em certas coisas e nas coisas que o filho acha totalmente reprováveis, o mesmo acaba seguindo elas inconscientemente, é como se não desse para escapar, como se o destino já tivesse selado o caminho dessas pessoas sem o direito de perdão, e eu vejo isso como aquele nosso lado ruim, que se o abraçarmos, nossas vidas acabariam em desastres, derramamento de sangue e muitas mortes. O ciclo do ódio e da vingança que cerca a humanidade e afeta alguns de nós, quando ele nos afeta e nos cega, ele parece ser a única saída pra resolvermos diversos assuntos, só que não fica só na conclusão da vingança, querendo ou não os justiceiros acabam envolvendo e trazendo inocentes pra essa vida de morte sem fim.
Eu poderia ficar aqui debatendo esse tema de vingança e olho por olho até a exaustão, pois é o tema maior e central dessa HQ, e envolver religião e valores cristãos no meio disso, mas o texto ficaria imenso e eu não domino tão bem a área da religião (apesar de estar começando a estudar esses assuntos).

A arte desse quadrinho é muito boa, a quadrinização é linda, o traço é forte mas tem leveza e a sujeira daquele tempo entendem? Gosto da atenção que o Pedro Mauro deu pros figurinos e prédios das cidades daquele tempo, a sujeira nas roupas, o desgaste em objetos, prédios e algumas roupas é algo bem interessante pra mim. Adorei ver as páginas onde só temos os cenários sem nenhum balão, só os personagens e a passagem de tempo acontecendo ao longo dos quadros, tipo essa:

Vejam a beleza contida nessa página, fala se esses painéis não são dignos de um filme? Isso aqui me lembrou até o começo de Red Dead Redemption 2 (tava me coçando pra me falar isso) onde a primeira hora ficamos presos nas montanhas por conta do inverno e das nevascas. Vi alguns comentários de pessoas falando que em preto e branco o quadrinho é muito bom, eu não li essa versão (se tiver mesmo) mas discordo muito dessas opiniões, as cores do Carlos Estefan são muito boas e conseguem deixar cenas como essa aí de cima muito melhores do que seria em preto e branco. As cenas de ação são muito bem feitas e de fácil entendimento, lógico que teremos duelos clássicos dos filmes de faroeste, mas muitas dessas cenas tem um contexto/motivação por trás que faz sentido, não é só o clássico do "bonzinho contra o malvado" entendem? Gostei de cada ponto de ação que o quadrinho carrega e essas cenas deixam um gosto de 'quero mais' assim que elas acabam, um exemplo de ação bem feita é essa logo abaixo:
Essa página foi muito bem pensada, os quadros estão bem feitos, esses ângulos cada vez mais próximo dos dois são muito bons, a competição de força, as cores e o resultado final, deixaram essa página um verdadeiro show de produção. Muitas das cenas de ação nos fazem lembrar de filmes como Django, Meu Nome é Ninguém, Por um Punhado de Dólares e por aí vai. O próprio protagonista tem traços do Pistoleiro/Homem sem Nome (personagem de Clint Eastwood), Django (personagem de Franco Nero) e Harmonica (personagem de Charles Bronson em Era uma Vez no Oeste). Ele (o protagonista) tem claramente traços e referências nítidas a esses personagens que acabei de citar e isso é um acerto tão grande por parte do Carlos na escrita, pois é um personagem que é Chad por inteiro e você se cativa por ele logo no começo assim que ele é introduzido, e as referências usadas são as melhores possíveis... Embora eu goste muito do arquétipo do Shane (personagem de Alan Ladd de Os Brutos Também Amam, e que também é referenciado aqui nesse quadrinho) que é aquele pistoleiro invencível no gatilho mas que tá exausto da vida de pistoleiro, matanças e de segurar uma arma em mãos, então ele vai atrás de redenção a vida inteira mas os problemas sempre vão procurar por ele até o fim, mas o estilo bruto caiu bem nesse personagem e o visual que o Pedro deu pra ele também combina bastante e tem referências aos outros citados.
Tudo aqui ganhou uma grande atenção e desenvolvimento, mas acho que algumas passagens poderiam ter se estendido mais e ter um desenvolvido melhor em alguns relacionamentos de certos personagens.

Aqui tá o link pra compra do quadrinho: https://www.amazon.com.br/Trilogia-Gatilho

Chegamos ao final de mais uma resenha e espero que tenham gostado, eu particularmente estou adorando trazer quadrinhos nacionais pra vocês e espero que vocês também estejam gostando. Não se esqueçam de deixar nos comentários o que acharam da resenha e do quadrinho (caso tenham lido), também não se esqueçam de compartilhar o site com seus amigos e conhecidos, e de seguir o mesmo caso gostem de verdade do que eu faço aqui. Muito obrigado pela imensa ajuda que vocês sempre me dão.

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